A CONTRIBUIÇÃO DAS INSTITUIÇÕES DE ENSINO SUPERIOR NA CONSTRUÇÃO DE UMA SOCIEDADE PARTICIPATIVA E SOLIDÁRIA
Palestra 8º FinancIES em Brasília com Osvaldo Della Giustina
VIII FINANCIES, Brasília 25 de novembro de 2015
SUMÁRIO
1-INTRODUÇÃO
1.1.Cumprimentos
1.2.Pressupostos
  • .Equívoco 1
1.4.Equívoco 2
 
2-UMA CIVILIZAÇÂO EM PERIGO
2.1. O momento em que vivemos.
2.2-O mundo insustentável
2.3- A consciência da Universidade.
 
  1. FUNDAMENTOS PARA UMA NOVA CIVILIZAÇÃO
3.1-A Massa de Consciência
3.2-Desconcentração e Cooperação, instrumentos da Participação e da Solidariedade.
 
4-O NOVO ESPAÇO  DA UNIVERSIDADE
4.1- A autonomia universitária
4.2- A nova universidade
4.3- Instrumentos para a ocupação do espaço
5.-CONCLUSÃO:  A REVOLUÇÃO DO TERCEIRO MILÊNIO
 

A CONTRIBUIÇÃO DAS INSTITUIÇÕES DE ENSINO SUPERIOR
NA CONSTRUÇÃO DE UMA SOCIEDADE PARTICIPATIVA  E SOLIDÁRIA
Palestrante: Osvaldo Della Giustina
 
1 – INTRODUÇÂO
1.1-Cumprimentos-
Quero inicialmente cumprimentar os Srs. reitores e gestores financeiros das Instituições universitárias de todo País, e meus queridos amigos. Ao fazê-lo, quero dizer também que preferi fazer uma reflexão direta, ou, como se diz, olho no olho, ao invés de deixar-me conduzir pelo tradicional power point ou outros instrumentos da tecnologia a cada dia mais sofisticada.
Confesso uma certa preocupação minha, que esses instrumentos, certamente mais objetivos e mais didáticos, às vezes possam dificultar uma comunicação, uma troca,  pessoal e uma reflexão maior e é exatamente para isto, meus amigos , que os convido: para uma reflexão maior. Desejo que esta reflexão seja útil para cada um, individualmente ,e para nossas Instituições…
1.2-Pressupostos
Desejo fazer inicialmente algumas considerações, como necessários pressupostos do que direi e das conclusões que farei na linha da contribuição que, a meu ver, o mundo ou a sociedade esperam, das Instituições de Ensino Superior, especialmente, da Universidade, na construção de um mundo melhor, mais humano, participativo  e solidário.
Estou convencido de que a sociedade, ou a civilização, só caminhará  nesse rumo na medida em que se ultrapassarem os desvios e as graves crises que ameaçam sua sustentabilidade, ou a sustentabilidade da civilização, e de tudo quanto a constitui e, portanto, da própria universidade. Estou convencido também que a universidade tem um importante papel a desempenhar nesse processo.
 De forma alguma, pois, o que vou dizer significa uma crítica à universidade, ou às instituições chamadas de ensino superior ,ou possa ser interpretado como uma descrença no que elas são, ou no que elas devem chegar a ser.
 Ao contrário, significa minha certeza de que elas tem potencialidades suficientes para vir a ser o que devem chegar a ser e que  esse mundo em transformação espera que elas sejam. Afinal, dediquei, o principal de minha vida à universidade …
Inicio, pois, dizendo que os equívocos em que  incorre a universidade, começam pela própria forma como a denominamos, denominação que, em geral, define as prioridades que costumamos praticar em sua gestão .
Digo isto na medida em que entre os conceitos e as formas como os expressamos, existe uma causalidade mutua: nossos conceitos se expressam através do que dizemos, mas o que dizemos constitui um dos fatores que inspiram nossos conceitos e, em consequência  o que conceituamos e o que dizemos acabam por ditar o que fazemos, ou seja inspiram nossas concepções da universidade, as políticas que promovemos e as ações que praticamos.
 SÃO  esses pressupostos, que vou aplicar no desenvolvimento do tema que me foi colocado: A Contribuição das Instituições de Ensino Superior na Construção de uma Sociedade Participativa e Solidária,.
Poderão ver  durante essas reflexões, que esse título poderia ser expresso de forma um pouco diferente. De toda forma, o título tem apenas uma importância relativa.
1.3-Equívoco 1
Estamos acostumados a dizer, ou denominar a Universidade, como as demais Instituições universitárias, como INSTITUIÇÕES DE ENSINO SUPERIOR( IES). Em consequência, considerada a correlação existente entre  nossos conceitos e as formas como os expressamos, estamos acostumados a pensar as  universidades como Instituições de Ensino, organizá-las como Instituições de Ensino e fazê-las funcionar como Instituições de Ensino.
Em consequência, aplicamos nas atividades de ensino, a maioria de nossos recursos humanos, financeiros e materiais, a maior parte de nosso  tempo, de nosso marketing e de nossas preocupações. Verdade?
 Apesar disto, todos  sabemos, que elas são muito mais que instituições de ensino. No mínimo, sabemos que elas são Instituições de ensino, pesquisa e extensão, como as Constituições Brasileiras nos repetem cada vez que temos uma nova Constituição, ou uma Emenda Constitucional, constituições e emendas que se tornaram fato corriqueiro, ou banal, o que revela nossa  imaturidade institucional.
É preciso perceber, no entanto, que, sendo as  universidades, instituições de ensino, pesquisa e  extensão, elas devam ser muito mais do que isto, ou que, a esse tripé deve ser dada uma dimensão muito maior, do que desenvolver  programas permanentes ou eventuais de assistência, assessoria, ou pesquisa ,às vezes setoriais ou simplesmente individuais, desse ou daquele professor ,desse ou daquele  departamento.
1.4-Equívoco 2
Um segundo equívoco, acontece quando concebemos e expressamos as universidades, e demais instituições, simplesmente em relação ao mercado, ao mercado de trabalho, como fornecedoras de mão de obra, ou de profissionais detentores do privilégio do exercício de profissões catalogadas como de nível superior.
Por aceitarmos esse conceito, acabamos por organizá-las e fazê-las funcionar como instituições fornecedoras demão de obra, talvez qualificada para o mercado e, para nossos alunos, como garantia  de sucesso profissional…
Sei que as UNIVERSIDADES recebem essa cultura da sociedade, cultura que impregna também a cabeça dos alunos e da qual, nós, professores e gestores acabamos por participar , como o revelam sua organização, seus orçamentos, suas peças de marketing, nas mais diversas formas de comunicação ,como também é transmitida nas salas de aula e através de outros meios.
Nessa linha, quero lembrar com toda força, com toda insistência, que o mundo em que vivemos é todo um mundo de nível superior, em todas as suas dimensões, e não apenas em sua dimensão de mercado, ou de mercado profissional e se a universidade quer responder a esse mundo,estar presente nele, ela tem que voltar-se a formar pessoas de nível superior de acordo com toda essa demanda e não apenas de acordo com a demanda de profissionais…
Como consequência  mais evidente e mais imediata dessa nova percepção, não deixem de perceber o enorme alargamento do mercado da universidade, ou a ampliação de sua clientela, como se costuma dizer, com evidentes reflexos na área financeira.
Concluindo essa primeira parte, quero resumir dizendo que a Universidade deve ser muito  mais  do que  instituição de Ensino, e muito mais que  Instituição formadora de mão  de obra para o mercado, se quiser estar presente  no mundo, ou talvez, se quiser sobreviver, não ser descartada nesse processo de transformações ,do qual, ao contrário, ela deveria ser importante parceira e promotora.
2-UMA CIVILIZAÇÃO EM PERIGO
2.1-O momento em que vivemos
Na análise do momento que estamos vivendo, ou que está vivendo a Universidade, não vou repetir a perspectiva dos cientistas americanos Noemi Oreskes, professora da Universidade de Harward  em parceria com o consultor da NASA, Erik Conwey, que, colocando-se na perspectiva dos historiadores no ano 2.300, nesta condição passam a  analisar, descrever e interpretar o que aconteceu ao mundo, ou à civilização, há pouco mais de 200 anos atrás daquela data, portanto, a partir do fim do século XX e durante o século XXI, ou seja, nos dias que estamos vivendo.
Pois bem, dizem aqueles mestres feitos historiadores do futuro sobre esses dias: “os cientistas, os empresários e os chefes de Estado daquela época, sabiam o que estava acontecendo, sabiam as consequências do que estava acontecendo, mas nada fizeram para impedir que tudo viesse efetivamente a acontecer”.
 Dessa perspectiva, os autores passam a descrever o que aconteceu ao mundo nesse período em referência(e cujo início nós estamos assistindo) no livro A DERROCADA DA CIVILIZAÇÂO OCIDENTAL que, creio, ainda não está em nossas livrarias e nem sei se estará, pois sendo um livro cientificamente embasado, é possível que não seja transformado em betseler,a ser exposto nas vitrines, à cobiça de nossos olhos.
No contexto desse mundo em que vivemos, do que aconteceu, do que se fez ou do que se deveria fazer e não foi feito, se a universidade se fechar em si mesma em seus equívocos, ela estará contribuindo para que a derrocada  da civilização aconteça, e o mundo, ou a civilização terão buscado em vão quem desenvolvesse e lhe apontasse  caminhos seguros e sustentáveis. Estou certo que a universidade responderá diante da história, ou das gerações futuras, se ela se fechar em si mesma…
Quero dizer que se a universidade, onde (teoricamente?) estão os melhores cérebros  da sociedade, não assumir essa consciência, quem a vai assumir? Os políticos? As corporações econômico-financeiras? Os sistemas que dominam o conhecimento, a tecnologia e os mercados, abafando a diversidade, o pluralismo das culturas e, portanto, a liberdade? Os fundamentalismos religiosos? Os que tem no lucro, no poder ou na ambição sem limites,  os seus  deuses, a quem tudo deve ser sacrificado, inclusive a sustentabilidade da Terra e a dignidade dos Homens?
Creio , meus amigos, que o ponto de partida, para reverter essa ameaça, consiste em que a Universidade comece por ver as crises, ou as tragédias que acontecem e ameaçam o mundo, a cada  momento e de tantas formas, como sinais do começo dessa transformação do mundo, que  chamo de transição civilizatória.
 Essa transição poderá levar a civilização a alguma forma de ruptura, ou  poderá nos abrir para nossa geração, e para a universidade a oportunidade única de construir uma  nova sociedade, sintonizada com os avanços e as transformações trazidas pela  Ciência e pela Tecnologia, onde as dimensões, ou as aspirações humanas sejam preservadas.
 Se não formos capazes de  construir essa nova sociedade, todos os avanços da ciência e da tecnologia, toda a riqueza produzida, toda promessa feita  e a esperança cultivada, terão sido inúteis. A universidade terá sido inútil.
2.2-O mundo insustentável
Ou vocês acham que é sustentável, um mundo onde o mau uso da tecnologia, em menos de um século, destruiu de forma irrecuperável, mais de 30% dos recursos naturais do Planeta, e está produzindo mudanças climáticas que, se não revertidas em tempo, poderão tornar a Terra um Planeta da vida em extinção?
Ou vocês acham que é sustentável uma economia, que cresce globalmente em torno de 3% ao ano, enquanto o resultado desse crescimento se concentra nas mãos de uma minoria cada vez menor, a mais do dobro, quero dizer, a mais de 6% ao ano, ao invés de crescer distribuindo-se minimamente entre todos?
Ou vocês acham que é sustentável uma civilização, onde os sistemas globais, que estão comandando o mundo, graças ao poder da tecnologia concentrada em suas mãos, estão fazendo substituir a diversidade, fundamento e pressuposto da liberdade, pelo monopólio das culturas e pela unificação do pensamento, dos usos e costumes impondo à civilização a ideologia, ou a cultura, do consumismo e da alienação de um mundo de valores  perdidos?
Ou serão sustentáveis os regimes políticos, incapazes de estabelecer a justiça nas relações entre as pessoas e entre os povos, mantidos, esses regimes, pelos sistemas de opressão dos que têm de sobra sobre os que têm falta de tudo, e ao me referir aos que tem de sobra, não me refiro só a pessoas, mas também a países ou regiões e também não me refiro só a bens materiais mas especialmente aos bens culturais  ,ao bem estar, ao acesso á saúde, à educação, enfim, a tudo o que significa uma dimensão humana de vida?
Ou será sustentável ,em consequência, um processo de competição sem limites, onde o mais poderoso ,ou o mais forte, com todo  poder dos  meios tecnológicos concentrados em suas mãos, elimina sem limites o mais fraco, gerando o mundo de milhões, ou de bilhões de excluídos, em processo crescente ?
Será sustentável, meus amigos, um mundo, onde os avanços da ciência e da nova tecnologia produziram uma total transformação, trazida pela informática, as redes globais e a interdependência, a física cósmica, a química fina, a microbiologia, enfim…, enquanto a organização social e as relações humanas   em nada mudaram, ou mudaram apenas superficialmente e continuam inspiradas e administradas de acordo com normas, leis, princípios, equações e ideologias geradas nos passados tempos da primeira  Revolução Industrial, que a era da nova tecnologia  ultrapassou irreversivelmente?
E continuo:
Ou será sustentável um mundo onde milhares de pessoas, de tantas formas excluídas das condições humanas de vida, fogem das guerras, das tiranias, da fome, da doença e da morte, em grande parte herança dos Impérios ”colonizadores” onde “o sol não se punha”, arriscando a vida e milhares morrendo na travessia de  mares, nos muros e nas cercas de arame farpado do mundo rico, lembrando, ao avesso, os campos de  concentração da era nazista e fazendo  reviver cenas da idade média que se imaginava jamais pudessem acontecer novamente?
Enfim, deixo a pergunta, se será sustentável um mundo onde a ética e os valores foram  destruídos nas relações humanas  e, frequentemente, nas  consciências dos homens, ao invés de serem transformados, ou substituídos por novos valores, capazes de trazer ao mundo da postecnologia, a justiça, a paz, a solidariedade, o pluralismo, a espiritualidade, deixando o vazio, nas consciências, nas mentes e nos corações humanos, para serem ocupados pela ambição sem limites ,o lucro e o consumismo, o pansexualismo e o prazer, o poder e o  dinheiro , estabelecidos e adorados  como novos deuses e supremos valores ,a quem tudo se sacrifica, inclusive a dignidade humana?
Não, a era, ou a história desse mundo selvagem ameaçado de uma derrocada  global que poderá atingir a espécie humana, como jamais na história porque terá a dimensão da tecnologia, necessita com urgência de  quem, em algum lugar, tenha a capacidade, e exerça essa capacidade, de  identificar, desenvolver e difundir os fundamentos, as normas ,as estruturas e o funcionamento, da a nova civilização, solidária e participativa ,o que significa uma civilização de dimensão humana, sintonizada com os avanços da ciência e da  tecnologia.
Ou temos o direito de nos manter alheios, talvez cegos a um mundo que desmorona, não apenas na sustentabilidade do Planeta, ou na face mais evidente das crises em agravamento continuo em todas as áreas da sociedade, na política, na economia, na ética, na garantia e na preservação dos direitos humanos, submetidos aos caprichos da manutenção do domínio mundial, e na ilusória segurança dos poderosos, incapazes de  perceber que as formas tradicionais de  segurança já não são capazes de garantir a sustentabilidade do mundo?
 Enquanto isto, no outro lado do terror, cresce esse mesmo processo através o acesso às armas mais mortíferas da tecnologia para seu uso na sequencia de atentados que se disseminam no mundo ,vitimando pessoas e instituições indiscriminadamente,
 De que este é um processo e não apenas uma sequência de fatos, o comprovam as recentes tragédias, seja no ar, de que são exemplos entre outros ,a tragédia das torres mundiais do comércio de Nova York , as aeronaves explodidas da Rússia ou da  Malásia sobrevoando em voos de rotina o território da Ucrânia, ou o Sinai. Ou seja, a morte multiplicando-se às centenas ou milhares no coração de Paris, na Inglaterra, na Espanha, no Líbano, na Síria, no Afeganistão, nas Filipinas na Ásia, ou na Etiópia, no Egito, na Somália ou simplesmente no despertar do continente africano, secularmente  vítima da exploração dos poderosos do Ocidente?
Tais formas desesperadas do terror ,estarão a cada dia ampliando SEU TEATRO DE GUERRA, não tenham dúvida.. Envenenar as fontes que abastecem as cidades do mundo, por exemplo ,que até há pouco era apenas ficção, hoje está nas estratégias de segurança preventiva dos poderosos através de seus ultrassofisticados sistemas de segurança,  com que imaginam  dar sustentabilidade ao mundo, enquanto as liberdades conquistadas pelo homem  através de sua história irão sendo cerceadas a cada dia, em nome da segurança.
Até onde teremos de ir?
 Ainda não percebemos suficientemente a dimensão da verdade que percebeu o Papa Francisco ao denunciar  que a civilização está vivendo a III guerra mundial, disseminada no mundo, fruto das ambições e da disputa pelo poder e pela riqueza, dos fundamentalismos e da intolerância de toda espécie, que poderão levar o mundo a regredir à barbárie, ou a alguma forma de ruptura que terá a dimensão do poder da tecnologia levado ao extremo.
Dessa regressão serão vítimas nossos filhos e netos, ou serão vítimas vocês em sua velhice, se  esse processo não for revertido a tempo.
Vocês tem dúvida de que inserir-se neste processo e dar-lhe novos rumos, é um desafio e uma responsabilidade histórica da universidade?
2.3- A consciência da Universidade.
É diante dessas questões, que em minha mente, ou em minha consciência, me aflora necessária e insistentemente a pergunta:
 -quê consciência tem a  universidade, de que ela é parte desse processo e como ela se posiciona diante deste cenário? Não poderia ser a universidade, o centro de geração  e desenvolvimento do conhecimento, ou do saber, como se auto denomina, ultrapassando o estágio de instituição de ensino e de formação de mão de obra?
 -por que não pode ser a universidade aquele alguém, ou aquele lugar esperado, capaz de formular e contribuir no desenvolvimento de uma nova síntese social, onde tão graves desvios e seus desequilíbrios sejam  eliminados, e substituídos por novas formas de organização e convivência harmônicas e cooperativas entre a civilização tecnológica, a dimensão humana e a sustentabilidade?
Se a Universidade não o fizer, quem o fará?
Concluindo essa segunda parte e embora não fosse necessário dizer neste ambiente de  reitores, intelectuais e executivos de universidades, quero dizer com convicção, que a proposta de um mundo diferente não é, ou não pode continuar sendo, uma visão romântica, nem uma visão meramente ética, e menos ainda uma visão moralista, ou apenas UM SONHO, como podem ESTAR pensando alguns.
Não. Não é, e se equivocam os que imaginam que, num mundo prático, é preciso ser apenas prático, sem perceber o mundo insustentável que os que não são capazes de perceber o além do prático estão construindo, ou deixando como herança para nós e para as próximas gerações.
Por esse equívoco, e tantos outros, os beneficiários de manter tudo como está, resistem em promover as transformações necessárias. Entre esses, porém, não poderiam estar  as  universidades, embora, às vezes estejam. Mas esta é uma resposta que cabe a cada um dar a respeito de sua própria universidade. Aqui vale apenas o alerta. Ou o pedido.
Quero agora dirigir-me especialmente aos que acreditam , que sua universidade pode ser um centro capaz de contribuir significativamente na construção de um mundo diferente, humano, participativo e solidário e, ao mesmo tempo, sintonizado com os avanços da Ciência e da Tecnologia. A esses quero dizer que não estão sozinhos, e também que não terão de começar tudo do nada.
3- FUNDAMENTOS PARA A NOVA CIVILIZAÇÃO
3.1-A Massa de Consciência
 Esses que têm olhos abertos para o que acontece no mundo, já terão percebido que cresce a cada dia, e cresce globalmente, aqui como na China, na África, na Europa como na América, ou em qualquer outra parte do mundo, uma nova Massa de Consciência, que se manifesta através de anseios mais ou menos conscientes e ainda difusos, em favor da recuperação de valores perdidos, ou da descoberta e adoção de novos valores ,adequados aos desafios de nosso tempo..
Cito alguns dos anseios e valores que compõem a Massa de Consciência, ponto de partida e inspiração de uma nova Síntese Social capaz de ordenar a nova Civilização da era postecnológica-alguns chamam da civilização do terceiro milênio. Tudo bem…
Entre esses anseios e valores, a sustentabilidade ambiental e o amor à natureza, a justiça e a paz; os direitos humanos, a vida como valor essencial, uma nova ética pública e pessoal; o pluralismo e a convivência cooperativa e solidária de culturas, de raças, de crenças, de regimes, de costumes, de modos de agir e de pensar, ou seja, um mundo sustentável, pluralista e comprometido com a dignidade  humana, ou seja um mundo Participativo e Solidário. Isto está e cresce na mente e no coração de milhões ou bilhões de pessoas no mundo
É a partir desses anseios, dessa massa de consciência, que cresce no mundo, que a universidade poderá desenvolver a nova síntese social, e através dessa síntese, propor as novas formas de organização social. Essas novas formas devem abranger a política, a  economia, a ética, o direito, as relações humanas, a ocupação e o uso do Planeta e de seus recursos, enfim, os novos modelos que organizarão e farão funcionar a nova sociedade do mundo postecnológico. A nova civilização.
Estarei sonhando uma dimensão grande demais para  Universidade? Ou será pequena demais  a dimensão que  estamos acostumados  atribuir à universidade?
3.2-Desconcentração e Cooperação, instrumentos da Participação e da Solidariedade.
Estou certo, caríssimos, que esses princípios são adequados para inspirar os novos modelos, ou novas formas de organização social, encaminhando o mundo, ou a civilização, no rumo da desconcentração de todos os seus componentes, que constitui a forma de viabilizar a participação de todos, e  no rumo da cooperação entre todos, como   forma de viabilizar a solidariedade.
Se a universidade não for capaz, ou se não se dispuser a voltar-se a contribuir na transformação dos valores da Massa de Consciência, sintetizados nos princípios  éticos da Participação e da Solidariedade e, através deles, inspirar as formas práticas, ou operacionais, da desconcentração e da cooperação, não creio que qualquer outra força social o possa fazer.
Neste caso, podem estar certos, só nos restaria ficar no aguardo de alguma forma de ruptura que levará o mundo, ou a civilização, a alguma forma de caos, sobre cuja dimensão e consequências alguns  cientistas alertam, mas podem inda, neste momento, ser situados no mundo da ficção. SÓ É CERTO QUIE o preço que a civilização, incluída a universidade, irá pagar será proporcional ao tamanho do caos. .
Por isto acredito que debruçar-se sobre o que acontece no mundo e com o mundo, e desenvolver em tempo a ciência e a tecnologia de como construir a nova civilização , preservando-se nela a dimensão humana, é uma tarefa urgente a ser assumida pelas universidades. Sei que isto foge um pouco, ou muito, das preocupações de cada dia. Mas de que adiantou cuidar do esplendor do dia a dia das festas do Titanic, se o Titanic navegava na véspera de seu encontro inevitável com o iceberg?
4-UM NOVO ESPAÇO PARA A UNIVERSIDADE
4.1- Assumir a autonomia.
Estejam certos, que o mundo, ou a civilização não vão destruir-se como o Titanic, nem a história do homem vai  ser interrompida. A questão é, como disse, o preço a pagar.
O de que estou certo é que esse é o grande espaço, o novo espaço, ou o novo mercado, que se abre para as universidades, e para as  instituições universitárias. É preciso, meus amigos, é preciso que as universidades o ocupem, com coragem, criatividade e competência, a competência de seus gestores e dos milhares de mestres e doutores que a compõem, que constituem sua alma e sua identidade.
Se ela, a universidade, não ocupar esse espaço, outros o ocuparão e o conhecimento, a inovação, a pluralidade, a identidade, ou a alma de cada uma, lhes será roubada pelos currículos medíocres e pela imposição de conceitos, de processos e procedimentos que irão afastando-a cada dia mais da realidade do mundo, ameaçando SUA SOBREVIVENCIA, INCLUSIVE, OU ESPECIALMENTE, SUA SOBREVIVÊNCIA FINANCEIRA.
ISTO SIGNIFICA DIZER QUE A Universidade terá que  assumir e exercer sua autonomia constitucional, predicado essencial de sua natureza ,embora não a reconheçam, ou não a respeitem, burocratas e tecnocratas de todos os níveis e de todas as ideologias, inclusive da ideologia da incompetência. Mas porque concorda a UNIVBERSIDADE em submeter-se ?
4.2-A nova Universidade
Só assumindo e exercendo sua  autonomia com coragem e competência, autonomia que deve ser exercida sobretudo no espaço da inovação e do conhecimento, é que a universidade evitará que o Estado chegue lá primeiro, com  suas garras afiadas pela ideologia, a rotina e a mediocridade e se arrogue ao poder de regular também o conhecimento e a inovação, além do ensino e da satisfação do mercado, ESPAÇO QUE ELE JÁ ocupou.
 Esta invasão NO MUNDO DO CONHECIMENTO E DA INOVAÇÃO, no entanto, será inevitável  se a universidade tiver como referência o diploma, a nota de avaliação, a chancela da burocracia,  porque cada vez mais  sobre o diploma, a nota, ou a chancela, o mundo vai buscar, na universidade, o conhecimento, a resposta à suas angústias e incertezas, ou aquela capacidade a que me referi, de ser ela o alguém, ou o lugar, onde um mundo humano, participativo e solidário, um mundo novo, pode buscar os caminhos de sua construção. Esta será a alternativas  à mediocridade de repetir o passado ,herança de outros tempos, dos tempos de um mundo que não existe mais, ultrapassado pelos avanços da tecnologia.
Estando nesse fórum de gestores financeiros  das universidades, não preciso me deter sobre  o significado financeiro dessa nova maneira de ser ou de pensar a universidade, até porque ,mais  do que eu, vocês sabem o que significa estar inserido no mercado.
No entanto, no contexto dessa nova dimensão da universidade desejo que percebam a enorme dimensão desse mercado que se abre para elas, na hora em que soubermos incluir nossa universidade na dimensão de parceira na construção dos processos humanos ou civilizatórios.
O mercado da Instituição Universitária será, então, um mercado muito mais  amplo que o mercado do ensino, da formação da mão de obra, ou mesmo o mercado da ciência  e da tecnologia limitadas às coisas. Essa visão estreita limita perigosamente as universidades, obrigando-as frequentemente a competir entre si, e sobretudo, com a voracidade do Estado
 Finalizando, permito-me umas considerações quase pessoais.. Quero dizer, que minha vivência de universidade, em todos os níveis, me acompanha há mais de 50 anos, de muitas experiências, de muito estudo, de muita aprendizagem. Boa parte desse tempo foi vivido nas próprias Instituições, outro tanto de tempo, em outras funções das mais variadas  que ,no entanto ,nunca me afastaram  dela.
Creio que vem desta vivência, minha convicção da inseparabilidade entre a universidade e o meio em que ela se insere, meio que, por menor que seja, deve ser percebido como parte do grande processo de construção do mundo maior,  parcela de  um organismo global. Sendo parte desse organismo global, é nesse organismo que ela deve situar-se e atuar, como célula viva, senão será inútil e, inútil, acabará por ser descartada.
4.3- Instrumentos para a ocupação do espaço.
Das experiências que vivi quero citar a da Universidade do Sul de Sta. Catarina, Unisul, minha universidade de origem, onde há alguns anos foi criada a Cátedra Participação e Solidariedade, que deveria ser um instrumento transversal, de mão dupla, para  inserir a universidade no mundo e o mundo na universidade.
Quero sublinhar que entendo essa inserção não apenas como a troca de experiências, de conhecimentos ou de intercâmbio docente ou estudantil, mas na perspectiva  de sua contribuição na construção de um mundo viável, humano, ou seja, participativo e solidário, sintonizado com os avanços da ciência  e da tecnologia.
 Inspirado por esse mesmo objetivo, mantenho  hoje nas redes sociais o Site “Por uma Civilização Participativa e Solidária” (www.participacaoesolidariedade.com.br ) com presença apenas relativa das universidades.
Creio que com apoio das universidades, ou na medida em que as universidades instituírem instrumentos semelhantes (cátedras, sites e tantos outros que a tecnologia oferece) operando-os internamente e globalmente através das redes, se poderia dispor de instrumentos adequados para debater, aprofundar e, dessa forma, contribuir  no processo necessário  e urgente de construção desse mundo sustentável, e portanto de construir a sustentabilidade da própria universidade.
Imaginem a força que criaríamos e o espaço que poderíamos ocupar, se as universidades se unissem em Rede por um Mundo melhor, não apenas como diletantismo, romantismo, ou mesmo esforço de alguns, individualmente, mas como uma contribuição sua, institucional, da Universidade, através de seus milhares de cérebros, em favor da sustentabilidade do processo humano, ou civilizatório.
As iniciativas referidas, a Cátedra e o Site, se fundamentam em meu livro PARTICIPAÇÂO E SOLIDARIEDADE, a Revolução do Terceiro Milênio, e na CARTA POR UMA CIVILIZAÇÂO PARTICIPATIVA E SOLIDÁRIA.
Mas tenho certeza que a criatividade das universidades e a competência de suas academias criarão novas propostas, ou aperfeiçoarão os fundamentos e as propostas contidas no livro, enriquecendo-as. Infelizmente não disponho de exemplares para oferecer o livro, mas informo que é uma edição da Editora Unisul. Posso oferecer alguns CDs, que contêm a Carta e uma síntese do livro.
Devo dizer que o CD, como o livro poderiam ter uma disponibilidade bem maior, se viessem a ter o patrocínio de alguma Instituição, talvez alguma entre as instituições presentes, o que poderia ser um começo de sua contribuição concreta na construção de um mundo mais humano, como me foi solicitado, ou sua opção por integrar as instituições comprometidas com a construção de uma civilização participativa e solidária.
  1. CONCLUSÃO: A REVOLUÇÃO DO TERCEIRO MILÊNIO
Concluo alertando especialmente os que se preocupam prioritariamente  com a formação dos profissionais de nível superior. Pessoalmente não acredito que possa haver  profissional de nível superior, se o profissional não for expressão de uma pessoa integralmente de nível superior, inserida  no mundo em mudança, capaz de contribuir em sua construção, cada um no nível de seu espaço, ou de sua dimensão.
TENHO, porém absoluta certeza, que para superar os equívocos da universidade, ou os desvios do mundo e da civilização, se faz necessária uma transformação de dimensão revolucionária. Por isto acrescento a meu livro a epígrafe A REVOLUÇÃO DO TERCEIRO MILÊNIO, porque é necessária nas instituições, como na universidade, uma revolução no mínimo tão grande como a revolução  acontecida na ciência e na tecnologia. E esta, sabemos, não foi pequena
Fazer essa revolução no entanto, está em parte significativa nas mãos da própria universidade,  daquela universidade a que eu pertenço, na sua universidade, e em todas as universidades que despertarem e assumirem QUE  ELAS SÃO PARTE ESSENCIAL DA SUSTENTABILIDADE da civilização e, portanto, de sua própria sustentabilidade, uma universidade participativa ,humana,  solidária.

Muito obrigado.

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