“A Solidariedade é muito mais do que o sentimentos de compaixão, que afeta as pessoas, que nos afeta diante de tragédias humanas, como a que vemos a cada dia na mídia, dos emigrantes, ou refugiados dos países africanos ou do médio oriente, que fogem das tragédias de sua terra de origem, sejam as guerras essas tragédias, seja a fome e a miséria, sejam os fundamentalismos religiosos, sejam outras razões, ou razão nenhuma.”
A Solidariedade é muito mais do que o sentimentos de compaixão, que afeta as pessoas, que nos afeta diante de tragédias humanas, como a que vemos a cada dia na mídia, dos emigrantes, ou refugiados dos países africanos ou do médio oriente, que fogem das tragédias de sua terra de origem, sejam as guerras essas tragédias, seja a fome e a miséria, sejam os fundamentalismos religiosos, sejam outras razões, ou  razão nenhuma.
De um lado, nos horroriza a dimensão do egoísmo de certos países, dos indivíduos que os governam e dos que os apoiam, como ocorreu na Hungria. Outros levantam barreiras, cercas de arame farpado, fecham fronteiras  atrás das quais escondem a prevalência de seu próprio egoísmo ,baixam leis e  fecham acordos através dos quais se comprometem acolher alguns grupos que pouco representam face a enormidade da tragédia, mas justificam,imaginam comprovar seus compromissos diante do mundo.
Em compensação, de outro lado, há gestos e atitudes que enobrecem a espécie humana e este outro lado da moeda sim representa solidariedade. Os libaneses já receberam em torno de 3 milhões de refugiados número equivalente à metade da população do país e, apesar disto, de alguma forma ,há lugar para eles, os refugiados; os italianos, de meu sangue, que  já recolheram mais de uma centena de milhares de refugiados, com seus barcos e navios percorrendo o Mediterrâneo para recolhê-los da morte e da tragédia, ou os gregos que em meio ao descalabro de sua economia recolhem, igualmente, dezenas de milhares de refugiados, fugitivos da Turquia, do Irã, do Afeganistão, e de outras áreas afetadas pela violência dos primatas. É a solidariedade.
Vi caravanas de alemães e de austríacos atravessando as fronteiras para buscar e acolher refugiados, rejeitados pela Hungria e vi jovens  alemãs e  austríacas dançando com jovens emigrados, brancos e negros, com igual sorriso nos lábios e brilho nos olhos, fazendo saltar aos olhos, aos corações e às consciências do mundo, toda  a dimensão da solidariedade . Vi  grupos alemães ,obrigada a conversão de sua Dama de ferro disposta agora receber meio milhão e mais de refugiados, organizar associações e outros grupos de acolhimento em suas comunidades .E , vendo-os, eles que fizeram o nazismo, não faz um século, lembrei o verso de Paul Claudel, ou Brnanôs, não lembro: “qui  fait la bête, fait l´anje” e pude ver ali os anjos do acolhimento e da solidariedade redimindo a besta dos desumanos tempos passados.
 Vi grupos franceses, e jovens ingleses, sobretudo os jovens- os que farão e viverão o mundo da solidariedade, ou que morrerão porque nós não fomos capazes de lhe dar esse mundo, vi os jovens da França e da Inglaterra, dizia, a que dominou por séculos esse outro  mundo que, do colonialismo, herdou sobretudo o sofrimento, indo às ruas para exigir dos políticos e dos governantes, leis, medidas e práticas de acolhimento, de solidariedade.
Vi o Papa Francisco, também ele e sempre ele ,da Janela do Vaticano de onde abençoa e traz esperanças ao mundo, pedindo ou determinando que cada paróquia, que cada pedaço da Igreja que ele  preside, se transforme em uma unidades de acolhimento, ele que tanto entende, prega e pratica  o amor ,que é o segundo mandamento, mas que, sendo o segundo, é igual ao primeiro que é amar a Deus, e isto ensinou Jesus, a dimensão extrema da solidariedade.
E vi também, meus amigos, queridas amigas, soldados e marinheiros brasileiros desviar a rota de seu navio, que se dirigia ao Líbano sob a bandeira de paz da ONU, para salvar mais de 200 quase náufragos, morrendo de sede, fome e desnutrição, em sua busca de refazer a vida, num mundo que imaginam mais solidário.
São esses solidários do mundo, queridos e queridas amigas, que fazem a Massa de Consciência, tantas vezes referida nessas reflexões, massa que cresce diante dos desequilíbrios e das tragédias humanas.
 Mas devo dizer que a solidariedade necessária, sendo isto tudo,  deve ir além disso tudo, da compaixão ou do gesto.
 É preciso que a Massa de Consciência, mude os conceitos jurídicos, as doutrinas políticas, a ética do moralismo, as regras, as estruturas e os relacionamentos humanos, bem como as práticas da política e da  economia que ainda regem o mundo, pois é nelas, nesses conceitos, nessas doutrinas, nessas estruturas, nessas práticas exacerbadas pelos avanços da tecnologia ,que estão as origens e as causas dessas e de tantas outras tragédias que desfiguram a convivência civilizada entre os homens.
Ouvi que depois da tragédia dos refugiados, a Europa, ou o mundo, não serão mais os mesmos.
Infelizmente, não é a primeira vez que ouço isto. Ouvi coisa semelhante quando da destruição das torres gêmeas de Nova York, dou como exemplo. Mas, passada a emoção, tudo retornou a ser mais ou menos  como que era antes. É verdade que os Estados Unidos depois elegeram Barack Obama, o que antes seria impensável. Mas mesmo assim os Busch ameaçam voltar.
Na verdade, a mudança necessária vai além da emoção e dos fatos que a provocam. Ela tem que  atingir as consciências, e mais, tem que indicar para onde a mudança  deve levar a sociedade, ou o mundo, senão a mudança não leva a lugar nenhum e tudo volta ao começo, ou conduz ao caos, de que deriva só mais sofrimento e morte, em vez de vida. Por  atingir as consciências, por implicar em mudanças ,mais do que uma emoção, ou um fato, a solidariedade é um processo. O fato, ou a emoção tem significado, na medida em que despertam as consciências, ou reforçam o processo, mas só a perseverança nos processos muda a civilização.
É preciso, pois, que a solidariedade, além da emoção, (como a participação), inspire, um novo processo onde as estruturas  sociais (políticas, econômicas, éticas, jurídicas, sociais, enfim…) evitem as tragédias, consequência da  concentração de tudo nas mãos de poucos e a exclusão de quase tudo na vida de tantos.
É preciso que a solidariedade-compaixão se transforme em solidariedade-mudança, solidariedade – transformação das estruturas sociais, essas a que acabo de me referir, as estruturas econômicas, políticas e as outras, e esta é a mudança, só esta, que pode efetivamente superar as crises, as ameaças e as tragédias do mundo.
Ou é sustentável-pode a humanidade sobreviver respeitada  a dignidade dos homens, num mundo onde cada vez mais, e numa velocidade cada vez maior, alguns acumulam tudo à custa da exclusão de tantos?
Ou é sustentável um mundo, onde  as guerras e a repressão, frutos da ambição sem limite  dos bens materiais e da acumulação da riqueza, onde fanatismos de  toda ordem, inclusive religiosos, ou a ambição de domínio e  poder de grupos, raças, países ou estados, sobre outros grupos, outras raças, outros países ou outros estados ,ameaçam a destruição do mundo, a repetição das tragédias ou as tragédias  continuas, seja pelo terror, pela insegurança indiscriminada ,seja pelas armas, pela tortura ,pelo domínio psicológico e cultural que desestrutura as pessoas, num novo colonialismo dos  que dominam, como sempre, sobre os mais fracos? É sustentável um mundo assim?
Ou será sustentável uma civilização onde milhões de pessoas sejam obrigadas a emigrar  entregando sua vida e a vida de suas famílias, crianças, jovens, idosos  ,homens e mulheres, à sanha dos que os exploram, às incertezas dos mares, ou à aridez dos desertos?
Ou será sustentável uma civilização, que nos últimos 50 ou 100 anos destruiu de forma irrecuperável, mais de 30% dos recursos naturais do Planeta, recursos de que dependem para sobreviver esta e as futuras gerações, utilizando sem qualquer limite, os avanços da tecnologia para destruí-los,impulsionados pela ambição e pelo egoísmo?
Não poderia nossa consciência, ou a consciência humana, a minha, e a tua meu caríssimo amigo, querida amiga, não, nossa consciência não  teria justificativa para negar-se a dar sua  contribuição, nos limites, mas no extremo limite das possibilidades de cada um, para superar essa difícil transição civilizatória por que passa o mundo, todos nós, como migrantes ou refugiados à busca de um  mundo diferente,  mais justo ,fraterno, participativo, solidário, ou amorizado , entre todos os homens, única forma  em que a civilização pode conviver com os avanços da tecnologia
Será este um  sonho, ou romantismo infantil ou inútil ?
 Não, estou certo não é. Estou certo que esta é uma questão de sobrevivência da civilização,ou da espécie humana , sob pena de que  venha a pagar um preço equivalente ao tamanho dos desvios que tiver embutido no processo, e de que as tragédias que assistimos e que nos ameaçam, ou ameaçam o mundo, constituem apenas um pequeno, ou um primeiro sinal. Não tenham dúvida quanto a isto.
Mas neste contexto, face ao que acontece no mundo, e o que está acontecendo ao nosso redor, o que estão fazendo com o  Brasil, e o que tem a ver o Brasil com tudo isto?Veja na continuidade, o que tem a ver o  Brasil.(II)
Osvaldo Della Giustina

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