Há apenas 10 anos, ninguém no Brasil ouvira fala no Black Friday
Há 20 anos, no Brasil, pouquíssimos comemoravam a halloween
Há pouco mais de 50 anos, pouquíssimos brasileiros confundiriam Natal com Papai Noel.
O que significavam esses nomes, ou quê lugar, ou o lugar de quem , vieram  ocupar esses nomes, ou essas datas? halloween, Black Friday Papai Noel.

Um pouco de sua história:

-A halloween há 2.500 anos era uma festa do povo Celta, que, por ser uma festa pagã, seus praticantes passaram a ser perseguidos pela inquisição durante a idade média, que teria criado o dia dos finados, para substituí-la. A festa das bruxas, no entanto, sobreviveu ,especialmente entre os que emigraram para os Estados Unidos no século XVI e XVII mas só ganharia o mundo no século passado. Isto aconteceu a partir do momento os comerciantes a descobriram como uma boa oportunidade de negócios.

Como oportunidade de negócios, a halloween faria das  crianças e das escolas, com muito suporte das redes de ensino da língua inglesa, seu mais importante veículo de divulgação. No Brasil espalhou-se nas últimas décadas do século passado e tomou conta da cultura brasileira, mantendo seu nome original, halloween, mais chique  do que o caboclo” dia das bruxas,” que, ao menos, caberia melhor na terra de Monteiro Lobato. Mas nem isto sobrou.

-A Black Friday, era celebrada nos Estados  Unidos no dia seguinte ao dia de Ação de Graças pelos negócios do ano que terminava, abrindo a temporada dos negócios do Natal. O dia de ação de graças tinha um significado religioso, com cultos de ação de graças a Deus, especialmente nas Igrejas evangélicas americanas. No entanto, não foi esse dia de ação de graças que se espalhou pelo mundo. Se espalhou o dia seguinte- o Black Friday- o dia da abertura dos negócios das vendas do Natal, que se iniciava…

No Brasil o dia de abertura dos negócios de Natal só chegou  em 2011,inicialmente promovendo o comércio via internet. No entanto, não precisou mais que dois ou três anos para que rapidamente se transformasse nessa loucura, ou comédia coletiva que ocupa os noticiários de Tv, o marketing das  empresas e a contabilidade de seus lucros, bem de acordo com a cultura do consumismo sem limites. Tornou-se também por  baixo do pano  a porta aberta à fraude restando, no entanto  , um espaço para  bons negócios que ,por sua vez serve também para abrir as postas para mais negócios.

-Bons negócios para o Natal, ainda que esquecido o  personagem principal da comemoração do Natal que nascera nesse dia, para trazer “aos homens de boa vontade” a Mensagem da Paz ,da Justiça e do Amor ,transformada na boa oportunidade da realização de bons negócios e de maiores lucros, às vezes até com um viés de fraternidade, marketizada nos presentes quem brilham nas lojas ,nos shoppings e nos supermercados.

.Quê é das comemorações do nascimento de Jesus, o Cristo, ou Salvador, aquele da Mensagem aos homens de boa vontade… quê é do Natal do humilde presépio de São  Francisco, o da irmã lua ,o  que amava as árvores e os passarinhos, na sua humildade e na sua pobreza…que é do humilde presépio de São Francisco, substituído pela árvore de  natal repleta de luzes e penduricalhos para atrair as crianças e seus pais às lojas, aos shoppings e supermercados…

Que é de Jesus Cristo e sua Mensagem, substituído pelo Papai Noel que a  Coca Cola ajudou a transformar no velhinho sorridente e seu saco de presentes em geral fabricados na China , na Coreia , ou mesmo no Brasil para os mais pobres, mas também  em geral fabricado nos Estados Unidos para os mais  ricos e bem nascidos, tudo na festa do nascimento de Jesus – o do presépio de São Francisco – o da lua, das árvores e dos passarinhos?

-Parece estranho que eu vá dizer agora, que eu não sou contra, ao Halloween em si, ao Black Friday ou mesmo ao Papai Noel. Minha preocupação cresce, no entanto, ao considerar a centralização, o monopólio global da cultura, o domínio cultural do mundo ou da civilização, com a eliminação das culturas locais, da complexidade ordenada que caracteriza os avanços civilizatórios, tornando tudo um monopólio só, monolítico, binário,  à custa da diversidade e da sobrevivência das referidas culturas locais, que fundamentam o pluralismo, a diversidade e, por consequência ,a liberdade. E não há para a humanidade ou para a civilização, ameaça maior de retorno ao primitivismo, do que a perda da diversidade ,porque a perda da diversidade significa a perda da liberdade.

No livro- Participação e Solidariedade, inspiração desse Site e de nossas reflexões, analiso desta forma essa ameaça:

“ Toda a evolução é um processo que parte do simples para o complexo”, princípio do qual se deduz, prossegue o livro:

”que quanto mais complexo um ser, tanto mais alto ele se situa na escala evolutiva. Isto ocorre com todos os componentes dessa escala, ao nível físico, biológico, psicológico ou espiritual. Na verdade a medida que ocorre esse processo (de complexificação) tanto mais se  aproxima o ser da multiplicidade de funções, de relações e de organização…”

o que quer dizer, acrescento, do pluralismo, ou da diversidade.

Depois de alertar que se a complexidade, o pluralismo, ou a diversidade não forem ordenados, há de acontecer o caos, o livro conclui :

“Pode-se dizer… em consequência, que, da mesma forma como o caminho da evolução é o caminho da complexidade (ou da diversidade), o caminho da evolução é também o caminho da construção da liberdade “ .

Meus queridos minhas queridas. Quando analiso como a Hallowin, a Blackfriday, ou o Papai Noel tomam conta do mundo, eliminando valores, crenças e culturas, quis dar exemplos comuns ,que estamos vivendo de forma escancarada por esses dias, da facilidade como se eliminam a pluralidade dos  valores, das identidades, ou seja a diversidade das culturas, impondo ao mundo a cultura única , movida pelos  interesses dos que dominam, seja qual for a forma de domínio, a riqueza, o poder, a tecnologia, ou os interesses, sejam financeiros, ideológicos ou de qualquer outra ordem esses interesses.

Basta que estejamos atentos para o que é exposto nas nossas vitrines, nas livrarias, ou ao que se ensina nas universidades, ou se divulga nos meios de comunicação, se cultiva na música, nas artes, na própria linguagem, a linguagem, origem e principal instrumento da comunicação humana

Estejamos atentos na preservação das culturas, de nossa cultura, dos valores, de nossos valores, para que o mundo não retorne ao primitivismo dos valores únicos, das culturas únicas, a civilização tornada binária, a nova forma de fundamentalismo imposto e moldado pelos interesses dos que dominam o mundo. Com a diversidade das culturas, junto se vai a liberdade.

Alternativamente tenho a audácia da esperança, como dizia Obama, de que somos capazes de construir um mundo onde a globalização não siga o desumano caminho da eliminação da liberdade, mas que seremos capazes de construir, na globalização, a civilização da diversidade, da desconcentração, e por isto, do pluralismo, da harmonia e da  participação .

Se você concorda, passe adiante. Reflita.

Comente e compartilhe.

Grande abraço.

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