Palestra no Centro Universitário de Barra Mansa\RJ27-07-2017 

 

 

Parte  1ª – A UNIVERSIDADE QUE TEMOS 

 

  1. A questão fundamental, ou o fenômeno humano 

Caríssimos colegas, convidados pelo amigo comum Marcus Vinicius para essa hora de reflexão sobre a NOVA UNIVERSIDADE num mundo em transformação. 

Quero esclarecer que é por solicitação minha a dispensa de data show e de outros instrumentos da tecnologia que permitiriam uma exposição, ao menos aparentemente, mais leve e agradável   e alguns diriam mais didática; talvez tenham razão. 

Mas confesso que prefiro a comunicação mais pessoal, olho no olho, como se diz. E não é só pela beleza do olho humano, muito mais belo que o olho frio da máquina, mas porque a cada dia estou mais seguro em afirmar que a máquina, ou a tecnologia, não deve substituir o homem, no homem quero dizer não só sua consciência, sua inteligência, mas sobretudo suas emoções, seu sentimento, sua capacidade de comunicar-se, de amar. 

Quando me refiro ao amor, também não quero me referir, como é comum referir-se, simplesmente ao amor como um sentimento romântico, sem valor científico, às vezes até, de acordo com o que dizem, ou praticam alguns sem dizer, contrário ao espírito ou ao método científico, que deve ser frio, impessoal, binário. 

Penso exatamente o contrário. Como afirmo em diversos de meus livros, especialmente “Participação e Solidariedade” e esse último que ´pode ser encontrado em sua edição portuguesa lançada na Alemanha pela Moreboock  Editores, ou no Brasil pela Editora Unisul, ”A NOVA UNIVERSIDADE ”, ambos em edição on line acessíveis para edições gráficas ou leitura eletrônica, como afirmo em diversos  de meus livros, dizia, especialmente quando se pretende fazer ciências humanas, do homem e da sociedade, o amor deve ser entendido como a própria essência do fenômeno humano, que realmente é, e 

Desconhecer o amor como elemento constitutivo essencial do ser humano, não considera-lo, é desconhecer um dos fatores fundamentais, talvez o mais fundamental de todos os elementos que constituem o ser humano, para entender o Homem e suas relações, ou seja sua vida em sociedade, portanto, também para entender, administrar, viver a Universidade. Seria como desconhecer, ou negar, o hidrogênio, ou o oxigênio ao analisar a água; 

Ao dizer isto, não estou inventando a roda. Talvez tenha tido como inspiração inicial o que afirmou Dante Alighieri, em sua Divina Comédia ao referir-se ao” Amor que move o sol e todas as estrelas”. 

Penso que, em sua expressão poética, Dante Alighieri intuiu uma verdade essencial, por isto científica, (ou só é científico o que não é essencial) que faz com que toda a natureza exista e funcione:  

 

Vamos, pois, à questão da universidade. 

 

2 A questão da universidade 

Quero incialmente lembrar que nas suas origens, no primeiro milênio, as universidades estiveram profundamente ligadas à civilização. Pode-se dizer que a Idade Média, seus valores, sua ética ou seu modo de pensar e organizar-se, nasceram nas universidades, ou encontraram ali seu berço, que gerou o renascimento das ciências e das artes, responsáveis pela nova civilização da segunda metade do milênio passado, independentemente de como venha chamar-se essa civilização que encerrou o século passado: civilização industrial, capitalismo, socialismo, ou outra denominação. 

Faço esta introdução para perguntar: 

Como se situa a Universidade hoje, a universidade que temos, face á  civilização  desse fim de século, e a nova civilização que se impõe nesse começo do novo milênio, como consequência  das transformações trazidas pelos avanços da ciência e da tecnologia; 

Trago essa interrogação porque quero dizer que a questão da universidade, nesse mundo em transformação, não deve resumir-se à seus problemas internos, a crise financeira que a atinge, a retração do mercado, a busca de aumentar sua clientela, a atualização de seu métodos de ensino ou dos currículos de seus cursos ,o melhor marketing,e outras questões que às vezes consome suas preocupações, suas análises e seu esforço de sobrevivência. 

Na verdade, creio até que como um caminho para equacionar todas essas, creio que é preciso trazer para a universidade a questão das transformações sociais, transformações que tem uma dimensão civilizatória, isto é, que abrange todos os setores da vida em sociedade e, portanto, se torna parte essencial da vida das pessoas e das instituições. 

Pois bem. Em consequência dessa nova abrangência é preciso perceber que a ciência e a tecnologia tornadas de nível superior, alavancaram para esse mesmo nível toda a sociedade, sua organização e todas as funções que nela acontecem ou que as pessoas nela desempenham,  e não apenas as funções relacionadas ao trabalho. 

Nessa nova sociedade da pós tecnologia, exige nível superior a compreensão do mundo com sua complexidade e contínua mudança, a compreensão das pessoas de si mesmas e de sua posição na sociedade, ou no mundo, a economia, a política, a cultura, a ética, enfim… 

O mundo, ou essa nova transformação de dimensão civilizatória é toda de nível superior, e seguramente, se as pessoas e as instituições não alcançarem esse nível, não se integrarão, não encontrarão lugar nesse mundo transformado, e se a sociedade não se organizar e não funcionar também nesse nível mas permanecer com sua organização, suas instituições no passado, longe dos avanços da ciência e da tecnologia, não sobreviverá como uma sociedade humana. Como há de sobreviver, não sei. 

No entanto embora isto esteja acontecendo no mundo, e embora haja um certo consenso de que Universidade existe para produzir, guardar e difundir o conhecimento, a ciência e a tecnologia e que para isto ela tem como funções essenciais, aliás até como mandamento  consagrado na Constituição do País, a pesquisa, o ensino e a extensão, a universidade brasileira, persiste em continuar sendo e funcionando como como era e funcionava antes que essa transformação acontecesse. Lógico que nem todas.  Lógico que deve haver exceções. 

Mas no geral a universidade brasileira continua uma Instituição voltada a formar mão de obra para o mercado, através do ensino, teoricamente de nível superior, como ela mesma se define e é definida também com sua leniência pelos órgãos oficiais, o Mec, os Conselhos, enfim…como Instituição de Ensino Superior- IES. Verdade 

Como mudar isto—ou seja estabelecer a coerência entre o conceito de universidade de universidade como instituição promotora, guarda e difusora do conhecimento, e a realidade prática, ou seja, a universidade que temos; 

 

3A  universidade que temos ,ou os equívocos da  universidade. 

Na prática, qual a universidade que temos 

Não vou me alongar na resposta a essa questão essencial, que constitui um diagnóstico necessário, embora doloroso, mas necessário porque sem ele, não há como transformar a universidade.- 

A universidade como instituição de ensino. Já me referi a esse equívoco, mas quero acrescentar que os fatos o demonstram: 

Os orçamentos da universidade são consumidos pelo ensino. Recursos para a pesquisa e a extensão, se houver- e os próprios docentes concordam com isto, quando pedem que os orçamentos lhes reservem 2,3 ou 5% para essas atividades. A universidade não assimilou que o conhecimento de nível superior, sua produção ,portanto a pesquisa, como sua difusão ,a extensão, constituem os próprios métodos de ensino ,ou de transmissão e aprendizado do conhecimento em nível superior. Nesse nível, não necessariamente se está falando em pesquisa avançada, pesquisa de ponta, que evidentemente não se exclui mas para esta sim, em geral, há de haver aportes específicos, o que não se aplica para a pesquisa e a extensão indissociáveis do ensino como determina a lei e a o bom entendimento do que seja ensino superior, ou universidade. 

Consequência desse entendimento equivocado, o planejamento é feito sobre grades horária de aula, a remuneração tem como critério a hora aula, a estrutura e os meios de infraestrutura são planejados e organizados tendo em vista as aulas; 

Enfim…a universidade como Instituição de ensino.. 

A  universidade fornecedora de  mão de obra. 

Esta forma equívoca de conceber a universidade, se agrava, porque se transformou em verdadeiro traço cultural , que se reforça com o excesso de regulamentação do exercício profissional, geralmente dito privilégio do exercício profissional, que efetivamente acaba por serão invés de ser inspirado apenas  pelo interesse da sociedade, pois além do exercício profissional acaba sendo critério de salário e remuneração e outros privilégios, (até de cela especial na prisão) que frequentemente simplesmente dispensam o conhecimento e também fazem buscar a universidade apenas em função do diploma, dispensando o conhecimento 

A universidade fábrica de diplomas 

É dessa forma e por razões semelhantes que muitas universidades acabam por se transformar em Fábricas de Diploma, o que significa a negação do significado de ser universidade. 

A Universidade centro de difusão de ideologias e outros interesses 

Sem preocupação maior em desenvolver e difundir a ciência, ou o conhecimento, a universidade   torna-se frequentemente em simples ambiente propício à difusão de interesses alheios ao conhecimento, sejam de caráter político partidário, seja religioso ou de outra espécie. Notem, que estou falando de ideologias, às vezes de fundamentalismos, e não de participação política ou em valores religiosos ou de outra espécie. 

A universidade simples atividade comercial. 

Enfim é dessa forma que se chega à universidade transformada em simples atividade comercial que pode se tornar até altamente lucrativa à custa da qualidade, ou seja, do conhecimento, de sua geração, guarda e difusão. 

Quero frisar que de forma alguma quero me referir a iniciativa particular e onde existem universidades e outras instituições de primeira linha. Também porque, numa sociedade, além da ameaça de entregar o conhecimento à ideologia ,ou ao monopólio do  Estado, como acontece nas ditaduras, uma simples equação aritmética seria suficiente para demonstrar a impossibilidade financeira do Estado de responder às demandas quantitativas e qualitativas  de uma sociedade  desenvolvida, ou que deseje alcançar essa condição. 

Resumindo esses equívocos cabe perguntar: 

Como pode uma universidade, em meio a tais equívocos, inserir-se num mundo em transformação e tornar-se um agente ativo na construção da nova sociedade, ou na civilização da pós tecnologia. 

 

Parte 2ª- O MUNDO EM TRANSFORMAÇÃO 

 

  1. As mudanças civilizatórias 

Tenho me referido várias vezes à mudança de dimensão civilizatória por que estamos passando. Esta não é a primeira vez que a história da evolução da sociedade passa por mudanças desta dimensão. Os historiadores e sociólogos, os antropólogos chegam a um certo consenso sobre as diversas etapas em que ocorreram tais transformações, como também em definir suas casas, ou fatores que as determinaram. 

Assim pode-se referir como primeira mudança civilizatória a transformação da forma de vida primitiva, nômade ou das cavernas para diversas formas de fixação como o surgimento dos primeiros conglomerados urbanos, transformação atribuída especialmente ao domínio do fogo e à utilização dos metais; 

das primeiras organizações urbanas para a constituição dos grandes impérios, onde os mais fortes, pelo domínio de vários, subjugaram os que evoluíam em estágios menos avançados,  estabelecendo seu domínio sobre eles; 

depois, já sob o desenvolvimento das ciências e a influência do cristianismo, absorvido pelos povos periféricos à medida que destruíam o Império Romano, no ocidente, determinando uma nova ordem civilizatória, a civilização medieval, que, depois de alguns séculos, com o desenvolvimento da ciência experimental, das artes e do pensamento humano, acabou por  provocar uma nova transformação civilizatória, com a introdução da máquina a vapor, inicialmente, e das inovações que  ela trouxe, ou permitiu, como a descoberta do novo mundo ,as novas formas de produção substituindo a produção artesanal ,transformando a organização econômica, política e social. 

Assim processo chegou à nova era- a civilização industrial em suas diversas formas de organização entre as quais predominam os sistemas denominados capitalistas em suas diversas acepções, e socialistas igualmente e suas formas diversificadas. 

Essa fase evoluiu para o que s especialistas ainda denominam de segunda revolução industrial. Na minha concepção, entretanto, esta é uma  expressão muito fraca para caracterizar as transformações trazidas pela  Ciência e pela Tecnologia após a período industrial, transformações numa dimensão jamais alcançada no passado.  

Por isto ao invés de segunda revolução industrial, prefiro chamar essa nova fase da evolução humana de civilização pós tecnológica . 

No entanto, o que ocorre, e esta é uma questão de extrema gravidade, é que a revolução acontecida na ciência e na tecnologia, ainda não ocorreu na ordem civilizatória, que teima em sobreviver como se ainda vivêssemos na era da pre tecnologia, na primeira Revolução Industrial ou quiçá na Idade  Média ,o que causa uma grave disritmia, ou desequilíbrio entre a realidade  científico-tecnológica e a realidade civilizatória. 

Mas é importante que se percebam nesse processo duas diferenças essenciais que caracterizam a atual transformação civilizatória quando comparada com as transformações anteriores:  

A primeira, a velocidade com que está ocorrendo hoje essa transformação, graças à inovação contínua, o que ,aliás comprova que esse processo histórico, ou da evolução humana  obedece à uma lei que é de toda a natureza,: a lei da aceleração das mudanças. 

Assim é que a primeira transformação civilizatória aquela do homem primitivo nômade ou das cavernas para a sociedade urbana, durou milhares, talvez milhões de anos. A segunda, da organização primitiva, para os grandes impérios, alguns milênios. O advento do feudalismo não mais que algumas dezenas de séculos, e do mundo industrial para o mundo a que chamo de pós tecnológico , está acontecendo em menos de um século, e está a  se tornar cada a vez mais um processo continuo. 

Esta, a primeira diferença. 

A segunda diferença consiste no fato de que as transformações no passado sempre aconteceram mais ou menos localizadas, em tempos diferentes, enquanto que a que estamos vivendo ocorre simultaneamente no mundo, como consequência, ou causa da tecnologia que impôs ao mundo, ou ao processo, a globalização. 

Pois bem. Não podem as pessoas, como as instituições, e de um modo especialíssimo as universidades, permanecer estáticas, paradas, nesse processo, ou mesmo que se transformando com a lentidão do passado, enquanto a Ciência e a Tecnologia se transformam e transformam o mundo, na velocidade de forma cada vez mais rápida e cada vez mais continua, obedecendo à lei da aceleração das mudanças..  

As instituições, as universidades inclusive, que não perceberem esse processo, e não tomarem este trem, estão inevitavelmente fadadas a se tornarem insustentáveis e serem eliminadas do processo.´ 

Temo que isto o que está acontecendo, e não só com a universidade, mas com a civilização.  

 

  1. As ameaças sobre o Planeta 

A insustentabilidade da civilização inicia pelas ameaças de destruição do Planeta, que o uso irresponsável do poder da tecnologia, e da ciência vem provocando, o que pode se tornar mais grave na medida em que alguns ainda estejam cegos ao que vem ocorrendo com a  casa comum dos homens e de todas a espécies que nela habitam. 

Entre os cegos que não querem ver, deve ser denunciado em nome dessa casa, o primata que assumiu a presidência da ainda maior potência do Globo, Donald Trump, que encarapitado no alto do Empire State  Bulding, vem lançando suas ameaças sobre o mundo, como King Kong lançava sobre a cidade Nova York ,embora sem a sensibilidade de King Kong, que se rendeu ao amor.  

Não me alongo sobre  o conjunto de fenômenos que ameaçam a sustentabilidade do Planeta, como o aquecimento global, as mudanças climáticas, a destruição das águas, da cobertura vegetal e a ocupação irracional do solo, o degelo das regiões polares, a poluição global e outros fenômenos, já suficientemente comprovados por cientistas e aceitos por personalidades mundiais em todas as áreas  do conhecimento e das atividades humanas, como pela população mundial, parte da Massa de Consciência que cresce no mundo. 

Tal evidência mostra que  a preocupação com a preservação do Plante e a conservação de seus recursos naturais não é um sonho ou um devaneio de românticos e desocupados, mas uma ameaça real sobre a humanidade, ou a civilização, se não forme mudados os hábitos, ou a forma irresponsável como vem sendo  utilizada a ciência e a tecnologia, onde predomina a concentração da riqueza ,do poder, e do hedonismo sobre o bem da humanidade, se não forem mudados o entendimento e os hábitos, dizia, com a urgência e a profundidade para estancar e reverter o processo. 

Isto considerado, me atenho apenas ao que alertam dois cientistas, por sinal americanos, Noemi Oreskes, Professora de Harward e Erick Conwey, engenheiro pesquisador da Nasa, em seu livro A Derrocada da Civilização Ocidental. 

Colocando-se como se fossem atentos   historiadores vivendo pelo ano de 2300, portanto daqui a quase 300 anos, eles analisam o que aconteceu com o Planeta Terra, a partir do fim do século 19 e durante o século 21,portanto nos anos que estamos vivendo. 

Nesse período os pesquisadores descrevem como ocorreu o aquecimento global, as mudanças climáticas, a elevação dos oceanos, a destruição das florestas e da cobertura da terra, a destruição da camada de ozônio, esses e outros fenômenos cujo início estamos assistindo e cujos efeitos dramáticos vieram atingir bilhões de seres humanos, diretamente mais de   um terço da humanidade e concluem: 

”O mais grave de tudo é que os cientistas e os chefes de Estado daquela época, sabiam  o que estava acontecendo, sabiam as consequências do que estava acontecendo, mas nada fizeram para evitar que tudo viesse efetivamente a acontecer.” 

Eu me pergunto até que ponto o veredicto da história será aplicado às universidades, à nossa universidade, e convido meus queridos amigos, a se perguntarem e… se possível a responderem: 

– enquanto isto ocorre com nossa casa, nosso Planeta, o que está acontecendo com a sustentabilidade da civilização- isto é, com o com o conjunto das pessoas, ou dos habitantes da Terra ameaçada, suas instituições, sua organização e seus relacionamentos… 

Para não me alongar demais repito o que transcrevi à página 51 do livro, já citado A NOVA UNIVERSIDADE num Mundo em Transformação, parte que retirei de reflexão semelhante a esta, que fiz para os Executivos das Instituições de Ensino Superior, há dois ou três anos. 

 

  1. A insustentabilidade da atual ordem civilizatória 

Diante do que vem acontecendo no mundo, da desigualdade, da concentração e da exclusão de grande parte da população dos benefícios do desenvolvimento da ciência e da tecnologia, cada vez mais concentrados nas mãos de um número cada vez menor de pessoas, regiões e países, diante da exclusão, das crises e dos desequilíbrios que elas provocam, é preciso perceber, que esses desequilíbrios estão gerando em dimensão crescente ameaças sobre os avanços conquistados pela civilização em sua longa história.  

Dessas ameaças são sintomas que se multiplicam as tragédias como as dos milhões de refugiados, o terrorismo, as guerras e os conflitos espalhados nas mais diversas partes do mundo, a fome, as doenças e a miséria que dizimam populações como a peste negra dizimava na Idade Média, a perda de valores universais, que constituem o mais valioso patrimônio das sociedades civilizadas.  

São essas questões que precisam ser postas à consideração das universidades, perguntando se será sustentável uma sociedade que embute tantas e tão graves distorções. 

Pergunto a vocês : 

Vocês acham que é sustentável um mundo onde o maus uso da tecnologia, como vimos, em mens de um século, destruiu de forma   irrecuperável, mais de 30% dos recursos naturais do Planeta, e está produzindo mudanças climáticas que, se não revertidas em tempo, poderão tornar a Terra   um Planeta de vida em extinção… 

Vocês acham que é sustentável uma economia que cresce globalmente em torno de 3% ao ano, enquanto o resultado desse crescimento se concentra n as mãos de uma minoria cada vez menor, a mais do dobro, quero dizer, a mais de 6% ao ano, ampliando perigosamente, nessa progressão geométrica, o abismo que separa os beneficiários do processo daqueles que são dele excluídos…. 

Vocês acham que é sustentável uma civilização onde os sistemas globais que comandam o mundo, graças ao poder da tecnologia concentrada em suas mãos, estão fazendo substituir a diversidade, fundamento e pressuposto da liberdade, pelo monopólio da cultura, pela unificação do pensamento, dos usos e dos costumes, impondo à civilização a ideologia, ou a cultura do consumismo e da alienação de um mundo de valores perdidos … 

-ou serão sustentáveis os regimes políticos incapazes de estabelecer a justiça nas relações entre as pessoas, entre os segmentos sociais e entre os povos, mantidos esses regimes pelos mesmos sistemas dos que tem de sobra sobre os que tem falta de tudo, e ao me referir aos que tem de sobra, não me refiro só a pessoas, mas também a países ou regiões, e também não me refiro só  a bens materiais, mas  me refiro especialmente aos bens culturais, ao bem estar, ao acesso à saúde, à educação, enfim, a tudo o que significa uma dimensão humana de ser e de viver…. 

-ou será sustentável, meus amigos, um mundo onde os avanços da ciência e da nova tecnologia, produziram uma total transformação, trazida pela informática, as redes globais e a interdependência, a física cósmica e a química fina, a microbiologia, a globalização…enfim… enquanto a organização social e as relações humanas em nada mudaram ,ou mudaram apenas superficialmente e continuam inspiradas e administradas de acordo com  normas, leis, princípios, equações e ideologias, geradas nos passados tempos da primeira Revolução Industrial, ou em séculos anteriores que a era da nova tecnologia ultrapassou irreversivelmente….. 

Será sustentável um mundo onde milhões de pessoas, de tantas formas excluídas, fogem das guerras, das tiranias, da fome da doença e da morte, em grande parte herança dos impérios “colonizadores” onde o “sol não se punha”, tão grandes eram, arriscando a vida e milhares morrendo na travessia  de mares, nos muros e nas cercas de arame farpado do mundo rico, lembrando, ao avesso os campos de concentração da era nazista e fazendo reviver cenas da Idade Média que se imaginava jamais pudessem ser vistas novamente… 

Enfim, deixo com vocês responder, se será sustentável um mundo onde a ética e os valores foram destruídos nas relações humanas, e frequentemente na consciência dos homens, deixando o vazio, o vácuo, nas mentes e nos corações, para serem ocupados pela ambição sem limites, o lucro e o consumismo, o pansexualismo e o prazer, o poder e o dinheiro, estabelecidos e adorados como os novos deuses, e repito o Papa Francisco, os novos deuses feitos supremos valores a quem tudo se sacrifica, inclusive a dignidade humana…. 

E concluo esta grave questão referente a uma civilização   que caminha para a insustentabilidade, deixando, ainda, com vocês a pergunta essencial: 

Diante desse mundo em desagregação, como se situa a nossa universidade, a nossa, com quem estamos comprometidos…ou simplesmente não se situa, alheia ao que ocorre no mundo, ou com a civilização, “que esse não é problema, nem competência da universidade, ou de cada um de nós, individualmente ,,, da minha disciplina….do meu mestrado”… 

Também vale perguntar, para que mundo nossa universidade está formando as novas gerações, para esse mundo em desagregação, para inserir-se nele com sucesso, ou as está preparando para serem colaboradoras na construção desse novo mundo que necessariamente virá, a nova civilização, onde se harmonizem os avanços da ciência e da tecnologia, com a plena dimensão humana e, nesse preparo, estejam aptas a se integrar nessa nova civilização, colaborar em construí-la e nela viver em plenitude…. 

Enfim, os convido a buscar uma resposta à pergunta, ou à dúvida, que deve estar no íntimo de cada um de vocês: 

– É possível, ou como é possível, construir essa nova civilização …. 

 

4 – Os fundamentos da nova civilização 

Tenho segurança em dizer, meus queridos ,que é possível sim, e que essa possibilidade não é um sonho romântico, nem um voluntarismo inconsequente, mas se insere dentro da lógica da história, dos valores e das aspirações da humanidade que, paralelamente às ameaças de destruição do Planeta  e de insustentabilidade da Civilização, crescem e se espalham  no mundo, formando uma nova e poderosa Massa de  Consciência em favor da nova Civilização. 

É preciso que todos estejamos atentos, e que as universidades despertem e se insiram nessa Massa de Consciência, assumam seus valores, contribuam para seu fortalecimento e difusão, se concentram em transformá-los em instrumentos e ações concretas para organizar e fazer funcionar a  sociedade embasada neles. 

É preciso estar atento para milhões de pessoas em todo mundo, que indo às ruas, ou no recesso de seus lares, ou de suas consciências, independentemente de raça, credo, crença, condição social, ou qualquer outro atributo, se posicionam em favor da justiça, da igualdade de direitos ,do respeito e da promoção dos  direitos humanos, da diversidade e da igualdade entre todos, da preservação do Planeta e de seus recursos naturais, da exigência de uma nova ética, da paz entre pessoas, povos e nações e de uma  dimensão plena do amor e da vida, valores universais expressos na Massa de Consciência, que penso poder resumir no direito universal à Participação e à Solidariedade  

Estou certo que é essencial e urgente que as universidades assumam esses valores da Massa de Consciência e os transmitam às novas gerações e a todos com quem se  inter relacione, preparando a todos para serem colaboradoras na construção desse novo  mundo e  preparando-os para nele viver, ao invés de serem preparados para se inserir neste mundo, ou nesta civilização insustentável que ainda persiste, fundamentada na competição, na concentração excludente e na ambição sem limites, raízes de todos os males ,tendo no poder e na concentração da riqueza, como disse, seus valores supremos. 

Concluindo essas reflexões sobre os fundamentos da nova civilização, para a qual caminha a humanidade como imperativo da evolução da história de que constituem sinal evidente os avanços da ciência e da tecnologia, devo acrescentar, que a Participação e a Solidariedade, enquanto princípios éticos, encontram na  desconcentração de toda organização social e de seu funcionamento no lugar da concentração, e na cooperação entre todos, pessoas povos e nações no lugar da competição excludente, os modelos operacionais capazes de organizar a nova sociedade, preservar o meio ambiente e construir a civilização da era da pós tecnologia,  e sintonizar seus avanços com a preservação e a plena promoção da dimensão humana. Tenho fundada esperança que as universidades assumam esta causa e preparem as novas gerações e todos com quem ela interagem, para contribuir na construção dessa nova Civilização, a Civilização da Participação e da Solidariedade.  

Espero também que, para isto, as universidades brasileiras superem a fase dos vários séculos de equívocos que a envolvem, aqueles equívocos a que me referi no início dessas reflexões, e tenha a coragem e a competência suficientes para construir a NOVA UIVERSIDADE nesse mundo em transformação. 

 

 

 

Parte 3ª- A NOVA UNIVERSIDADE. 

 

  1. A universidade brasileira, um milênio ou vários séculos depois. 

Poucos sabem que  o Centro de Cultura Muçulmana, criado em Fez no  Marrocos, no século IX,  cuja estrutura física ,no centro da Casbah daquela cidade, ainda abriga a atual Universidade da Cultura Muçulmana ,  é considerada a primeira universidade do mundo Os primeiros séculos do Milênio passado, viram nascer as grandes universidades europeias, Bologna na Itália, Oxford na Inglaterra ,Paris na França, além de outras que se espalharam pela  Alemanha, Espanha, Suécia e se multiplicaram nesses e em outros países. 

Na América, a primeira universidade, a de Sto. Domingo, no Caribe, surgiu no primeiro século das grandes descobertas, o século XVI ,seguida pelas universidades de San Marcos no Peru, da que é  hoje Universidade Nacional do México, da de Sto. Tomaz, da de Córdoba, da San Francisco de Sucre e de outras, todas na América  espanhola nos séculos  XVI e XVII. A pioneira dos Estados Unidos, a Universidade de Harward, data também do  século XVII. 

No Brasil, colônia portuguesa, nenhuma universidade ou curso de nível superior existiu no período colonial. Cursos ou disciplinas esparsas consideradas de nível superior foram criadas na segunda metade do Império, nas áreas do Direito e da Medicina, no Recife, em Salvador, no Rio de Janeiro e em São Paulo. Apesar de algumas iniciativas em Curitiba e Minas Gerais, só em 1934, há bem menos de um século, portanto, funcionou a primeira universidade brasileira, a USP-Universidade de São Paulo, criada durante a Revolução constitucionalista daquele Estado. 

Creio que não devo estar exagerando ao dizer que a universidade brasileira, a cultura brasileira e o Brasil, estão pagando um preço, e estão ameaçados de pagar  um preço muito maior, por esse atraso histórico, de um milênio ,de muitos, ou de vários séculos.  

Deixo em anexo um capítulo de meu livro A NOVA UNIVERSIDADE, sob o título “ um doloroso diagnóstico ” onde se verifica que em quase uma dezena de rankings referentes à posição dos países na área da educação e, especificamente da universidade, o Brasil está colocado sempre, estou dizendo sempre, no terço inferior dos países analisados. 

Tenho consciência, pois, que para transformar a universidade brasileira essa que foi analisada no início de nossa reflexão, numa NOVA UNIVERSIDADE num mundo em transformação, sintonizada com os avanços da Ciência e da Tecnologia e preservada a dimensão humana, há um imenso trabalho a ser feito, porque, nesse processo está também embutida a necessidade de resgatar esse enorme  atraso histórico. 

Alguns deverão encontrar nisto uma vantagem, por causa do peso da tradição. É possível. 

De toda forma, esta é a realidade e este o desafio 

 

  1. A presença do Estado: a indissociabilidade do Ensino da Pesquisa e da Extensão e a autonomia da Universidade. 

Na história republicana só a Constituição de 1988 – a 5ª nesse país fértil em leis e constituições e, portanto, de instituições frágeis, tratou substantivamente da universidade. 

A Constituição de 1988,em seu Art.207 estabelece: 

“ As universidades gozam de autonomia didático-científica, administrativa e de gestão financeira e patrimonial e obedecerão ao princípio de indissociabilidade entre ensino, pesquisa extensão”  

Creio que seria difícil dar forma mais explicita e clara desses dois princípios constitucionais que regem, ou que deveriam reger a universidade brasileira. 

No entanto ,valendo-se da infinita imprecisão da língua  portuguesa, na qual cada palavra pode ter um, dois, três ou mais sentidos,( o que  pode caracterizar o português como uma língua muito romântica, em  compensação muito pouco científica), abriu-se no Brasil o paraíso da cornucópia legislativa, dos pareceres, das resoluções .enfim da desmoralização do óbvio, ainda que seja constitucional esse óbvio, pela prevalência das interpretações, dos pareceres do assessor , do  ministro, do chefe ,enfim dando sentido à sabedoria popular quando alerta que ”manda que tem poder”, obedece quem tem juízo. 

Creio que é óbvio que a Constituição ao estabelecer a indissociabilidade entre a pesquisa, o ensino e a extensão, quis significar que tais funções, sendo inseparáveis, não podem ser ministradas uma sem que se ministre a outra, com um mínimo de paridade entre elas.  

No entanto, as estruturas, desde  em âmbito federal até nas universidades, as separam  em suas estruturas orgânicas e funcionais, nos orçamentos, na disponibilidade de recursos, nos currículos e disciplinas, no planejamento das atividades acadêmicas, prevalecendo longe as atividades de ensino sobre a pesquisa e a extensão, o que explica, e justifica, que sejam  concebidas e chamadas simplesmente de INSTITUIÇÕES DE ENSINO – IES. 

Estou certo também que, ao estabelecer esse tripé, a Constituição embutiu nessa expressão o próprio conceito de universidade, como a instituição que produz (pesquisa), guarda e difunde (ensino e extensão) o conhecimento;  

Enfim, não tenho dívidas de que esse conceito não se restringe apenas às universidades, mas se aplica, a toda instituição de nível superior,embora sua aplicação possa  ser diferenciada de acordo com o nível de cada instituição, mas em qualquer uma delas, é esse tripé que as caracteriza como instituições de nível superior. 

Em relação ao segundo princípio, o primeiro pela ordem redacional, a autonomia da universidade, é preciso entender, embora Estado pareça não entender e nem sei se as próprias universidades o tem entendido, que ela, a autonomia, decorre da natureza da ciência, que não existe em função desse ou daquele interesse, seja do Estado, do Governo, da ideologia, do lucro ou de outro qualquer interesse, mas necessita ser independente na sua investigação, no seu desenvolvimento e em sua difusão, para que seus resultados possam efetivamente ter confiabilidade, ou reconhecimento científico da autonomia da universidade. 

Creio que por pouco conhecimento de sua natureza científica, e não apenas pelas múltiplas interpretações do dispositivo constitucional que a expressa juridicamente de forma, como disse, explícita e clara ( autonomia didático científica, e de gestão financeira e patrimonial ) a autonomia universitária tem  sido apouco respeitada pelo Estado, às vezes por suas mantenedoras, que interfere a toda hora em sua gestão didático -científica, estabelecendo currículos, metodologias, tempos, avaliações  e outras formas de intervenção na vida das universidades, e também sobre a gestão financeira e patrimonial, estabelecendo indiscriminadamente valores, taxas e formas de pagamento, não apenas em relação a seus recursos ,recursos púbicos que nelas investe ,o que se justifica nos termos e nos limites da lei,  mas também sobre  recursos de qualquer outra fonte. 

Nessa cultura de intervencionismo o Estado deve ser inquirido sobre os limites de suas competências, que no fundo devem restringir-se à garantia dos interesses, ou da segurança da sociedade e, no caso, especificamente às atividades referentes à concessão de privilégios do exercício profissional, jamais às atividades referentes ao desenvolvimento do conhecimento que como vimos, constitui a natureza essencial da Universidade, e que ela mesma, em geral, desconhece e, por isto mesmo ,não a pratica . 

  É preciso entender, que o grande espaço do exercício da autonomia da universidade, está no conhecimento, na produção, na guarda e na difusão do conhecimento e não na formação da mão de obra. 

Ocupar esse espaço do conhecimento, ou percorrer o caminho da transição do espaço da competência do Estado, a que a universidade hoje se amarra ( a universidade formadora  de mão de obra) para ocupar o espaço do conhecimento , é o primeiro passo no caminho de construir a NOVA UNIVERSIDADE. 

Anexo um gráfico, que exprime essa transição. 

No mundo transformado e em continua transformação, tendo assimilado os conceitos de universidade como produtora, guarda e difusora do conhecimento, (da ciência e da tecnologia) e, em consequência , como instituição que pratica a pesquisa, o ensino e extensão de forma indissociável  e  que,  para isto, tem consciência e assume sua condição de instituição autônoma, ela está pronta para dar um novo passo nesse caminho de se transformar na Nova Universidade. 

  1. O caminho da transformação e suas prioridades. 

Não dá de percorrer esse caminho, fazendo qualquer coisa. Obter êxito nesse propósito exige definir com a coragem o objetivo onde se quer chegar e os meios para chegar. Embora não existam receitas porque cada instituição, em função de suas  realidades, deve definir suas prioridades e seus meios, quero referir-me ao que considero três prioridades, sem o que se poderá cair na vala comum de mudar tudo para que tudo acabe ficando  exatamente como está .Penso que toda a comunidade  universitária deverá ser envolvida  em três prioridades  essenciais: 

a primeira integrando definitivamente ao ensino e a pesquisa e a extensão  como seus  elementos indissociáveis 

– a segunda, buscando a flexibilização da estrutura e dos procedimentos acadêmicos ; 

– a terceira, assumindo que a função da nova universidade consiste em difundir  o conhecimento de forma permanente, através de toda avida das pessoas. 

–  a quarta, adotando a virtualização como instrumento essencial na produção, na guarda e na difusão do conhecimento.  

 

3.1. A integração da Pesquisa, do Ensino e da extensão 

Sobre a primeira questão lembro que a maioria das universidades ainda resumem o planejamento acadêmico ao planejamento de aulas, à famosa grade horária. É a mais eficaz forma, dentro da universidade, de não praticar o preceito constitucional da indissociabilidade do ensino, da pesquisa e da extensão, e negar seu conceito que em geral aceitamos que a universidade constitui sobretudo um centro de inovação, ou seja de criação e desenvolvimento da ciência, guarda e difusão de seu patrimônio  

Ou podem as aulas desempenhar todas essa funções ? ou a pesquisa  e a extensão podem ser promovidas desde que os interessados busquem recursos  extra orçamentários, uma vez que em torno de 70% ou 80% do orçamento da universidade são gastos  no pagamento de aulas e na administração ,restando, às vezes  3 ou 4% para a pesquisa e a extensão, o que é mais grave, pois esses valores satisfariam a reivindicação dos docentes que quisessem programar alguma dessa atividades . 

Tal equívoco decorre da ideia de que a Pesquisa ou a Extensão da Universidade, necessariamente deve ser uma atividade de ponta, de altíssimo nível- e é verdade. Mas   esse tipo de pesquisa é próprio das grandes universidades de seus pesquisadores do mais alto nível e seus recursos buscados nas fontes nacionais ou internacionais de financiamento, que isto é possível 

Não quero dizer que tais pesquisas não possam ser feitas por universidades menores, ou a nível de graduação. Mas é preciso entender que a pesquisa e a extensão podem se dar simplesmente no meio onde atua a universidade, na pesquisa e na análise científica de suas potencialidades ou de seus problemas e das formas de resolve-lo. 

Mas é preciso entender sobretudo, que a pesquisa, como a extensão, constituem sobretudo um método de aprendizagem do exercício da ciência, de fazer ciência e de aplica-la, que é isto, fazer e saber aplicar a ciência, que distingue a formação da formação de nível superior da formação de outros níveis de outros graus, esses sim, e por isto, chamados graus de ensino, expressão, porém, que é imprópria quando aplicada ao nível superior- à universidade? 

De minhas experiências quero me referir brevemente ao que realizei quando dirigi A Fundação Universidade do Tocantins. Quando assumi um dos meus primeiros atos foi extinguir a grade horária e desfazer o Grupo de Trabalho responsável por fazê-la e aplica-la. A grade horária foi substituída, pelo Planejamento semestral integrando as atividades de pesquisa, ensino e extensão, elaborado pela coordenação de cada curso, articulando-se  com as congregações dos cursos afins 

Resultou que, de menos de  20 trabalhos de pesquisa e extensão que eram feitos por setores, alguns professores  ou alunos contemplados com recursos  do programa de iniciação científica, três anos depois, quando deixei a reitoria , havia em andamento mais de um centena de programas de pesquisa e extensão; Alguns até eram grande projetos de assessoria para ações do Estado ou de grandes empresas, mas a maioria eram pequenos projetos de cursos, de grupos, às vezes interdisciplinares, para obter conhecimento e aprender, cientificamente como fazer para obtê-lo.  

Com que recursos?  

-simplesmente tornando a pesquisa e a extensão parte de  ensino,  método do aprendizado de fazer, interpretar e aplicar a ciência. 

Devo dizer, como os melhores resultados e a melhor satisfação de alunos e professores, que não vem ao caso relatar aqui, mas que os indicadores revelaram à claramente. Também a sociedade. Era comum ouvir-se que nada acontecia no Estado, sem a presença da universidade. 

 

3.2. Flexibilização das estruturas e dos procedimentos acadêmicos 

Da mesma forma como as atividades acadêmicas continuam em geral definidas pela grade horária, a estrutura da universidade, sua infra -estrutura e seus procedimentos, continuam condicionadas por outro tipo de grade: os cursos e seus currículos, as disciplinas, seus   conteúdos e seus métodos pedagógicos trazidos e coincidentes com os de outros níveis de ensino, prevalecendo sempre como sendo o objetivo ,a preparação para o mercado de trabalho. 

No entanto a exigência de nível superior hoje, não se restringe ao mercado de trabalho , como foi dito e vocês sabem> .A exigência de nível superior é extremamente abrangente e mutável  em consequência das mudanças trazidas pelos avanços da ciência e  da tecnologia. Toda a sociedade, toda a vida em sociedade sofreu e continuará sofrendo a mesma transformação, que ocorre no mercado de trabalho.  

É impróprio, portando, que a universidade se estruture, funcione e forme pessoas condicionadas a currículos, disciplinas, conteúdos fechados, definitivos para todos e para toda vida. 

È preciso fazer a consciência, meus amigos, que a universidade é (ou, por pressuposto, deveria ser) um patrimônio de conhecimento. Algumas universidades, a Unisul, por ex. possui mais de mil disciplinas, mais de 50% delas virtualizadas, isto é, acessíveis através dos meios eletrônicos. Hoje seus cursos e disciplinas já se agrupam com certa flexibilidade em 4 áreas a que chama de UNAS, Unidades de Articulação Acadêmica, mas é muito pouco. Vejo essa iniciativa apenas como um começo de caminho. 

 

A pergunta é: porque enquadrar esse patrimônio de conhecimento dentro de cursos, currículos, conteúdos, diplomas de exercício profissional, se o mundo precisa de conhecimento, se os que se formam na  universidade deveriam ter muito mais do qe uma formação para o mercado de trabalho. 

Não poderíamos imaginar esse patrimônio como uma fonte aberta, onde quem o procurasse pudesse navegar, ou voar em seu espaço. ampliando seu conhecimento, sua formação como pessoa ou mesmo como profissional, ao invés de se enquadrar nas quatro paredes e nas  dez, ou 20 disciplinas do currículo ? 

Nesse caso o aluno se  matricularia na  universidade, para ter acesso a esse patrimônio do conhecimento, orientado ou não pela universidade, de acordo como o que ela viesse, mais ou menos, regular e orientar para esse voo ,ou essa navegação. 

Não, meus amigos, não estou a sugerir desobediência às normas de formação profissional, cujo diploma só poderia ser dado, quando o aluno concluísse o currículo mínimo exigido pelo MEC ,ou pela própria universidade, em complementação. 

No entanto, quero deixar outra pergunta: 

Porque não pode esse patrimônio do conhecimento ser aberto à própria sociedade, para os que, através de matrícula, ou da forma como o definir a universidade, possa buscar nele o conhecimento, de acordo com o interesse, ou a necessidade de cada um ?. 

Enfim, o que desejo dizer, é que a função da universidade deve ir muito além da formação profissional ou do preparo de mão de obra para o mercado, área de competência do Estado, ou do MEC e, portanto, a ser seguida dentro de seus limites. Mas quero dizer que a Universidade, A NOVA UNIVERSIDADE, se justifica, e dá sentido a seu patrimônio de conhecimento, que ela é, numa dimensão muito maior  do que a de ser oficina de formação de mão de obra, prática que a desviou de seu conceito essencial, de centro de produção, guarda e difusão do conhecimento, ou da ciência e tecnologia. 

 

 3.3. A difusão permanente do Conhecimento ou a Educação Permanente. 

Da mesma forma como, num sentido horizontal, a NOVA  UNIVERSUDADE deve abrir e flexibilizar seu patrimônio de conhecimento, da mesma forma esse patrimônio deve ser expandido para acompanhar a evolução permanente do conhecimento, ou da ciência e da tecnologia ,e viabilizar dessa forma, o acesso permanente da sociedade, de seus ex-alunos, que poderão deixar de ser ex para ser alunos permanentes, fidelizados à sua universidade, mas também viabilizar  o acesso permanente da sociedade, que também deve atualizar-se permanentemente  nessa evolução, não  atualizar-se só na área profissional, mas  em todos as dimensões da vida. 

No entanto, se percebemos que esse é um dever da sociedade, não há como não indagar, quem lhe há  de oferecer condições de cumpri-lo, se a universidade não o fizer ? 

Creio, que oferecer oportunidade para o que  se convencionou chamar de educação permanente, deve passar a ser, em resposta, também uma função essencial, inerente à universidade, que queira  estar presente nesse processo de transformação do mundo. 

No entanto, meus amigos, creio que devemos reformular o conceito mais em voga, que confunde educação permanente com a ministração de cursos, chamados outrora de educação à distância,(EAD) quando fora da sede de sua instituição promotora, ou de outras formas de ministrar formação, fora dos currículos oficiais adotados pela universidade. 

Penso que hoje esse critério está totalmente ultrapassado pelas transformações porque passa o mundo. Penso que o conceito de Educação Permanente, hoje, até em coerência com o que foi dito da  flexibilização das estruturas acadêmicas, deve ser substituído pelo conceito de oferta permanente de Conhecimento viabilizando à sociedade a oportunidade de acesso permanente a ele; 

Nesse sentido, melhor seria denominar a Educação Permanente, presencial ou à distância, de Sistema de Acesso Permanente ao Conhecimento, preferencialmente virtualizado como cada dia mais funciona o mundo transformado. Nesse sentido, a Universidade funcionaria como funcionam os provedores do conhecimento, com a garantia de que nesse sistema da universidade o conhecimento oferecido é um conhecimento científico, certificado por uma universidade. 

Devo dizer que essa responsabilidade de oferecer o conhecimento fora das quatro paredes a sala de aula, há de se transformar em uma nova exigência de qualidade ou de excelência da universidade, maior e mais eficaz que todas as avaliações tradicionais e seus resultados. 

Como se trata de difusão do conhecimento e não simplesmente de oferta de cursos regulamentados ,abre-se também um novo espaço ,alguns prefeririam dizer um novo mercado, que regulamentado pela própria universidade ,dentro dos limites de sua autonomia, terá também significativo impacto positivo em seus orçamentos. 

Para melhor compreensão, anexo dois gráficos, 

– um de como a universidade pode passar de um espaço que hoje se limita quase que exclusivamente à absorção  de parcela de alunos egressos do ensino médio, para um novo  espaço social e virtual, indefinidamente ampliado.- 

– outro representando um organograma simplificado da NOVA UNIVERSIDADE, onde a educação permanente virtualizada, ou o acesso permanente ao conhecimento ,oferecido pela universidade pode ser realizado de diversas formas ,segundo a regulamentação de responsabilidade da própria universidade, sempre que ultrapasse a área de formação profissional regulamentada pelo Estado. Nesse esquema a Educação Permanente, poderia oferece as modalidades de acesso, através de cursos regulamentados, que levassem à obtenção de diplomas, mas poderia oferecer cursos dos  mais  diversificados ,de acordo com as demandas, ou as necessidades da sociedade, ou poderia simplesmente oferecer acessos regulamentados, ou simplesmente livres, estabelecendo as respectivas condições de uso, inclusive financeiras. 

 

 3.4. A virtualização da Universidade. 

Não vou me estender nessa análise desse instrumento-os meios virtuais, mas afirmar que dificilmente a universidade ingressará  no rumo de transformar-se na NOVA UNIVERSIDADE, se não adotar a virtualização como instrumento básico essencial dessa nova concepção, mesmo porque o mundo cada dia mais funciona e cada dia mais irá funcionar de forma virtualizada. 

Quero dizer também que a universidade virtualizada não substituirá a universidade presencial,  porque a universidade presencial será o centro essencial ,não apenas de administrar todo  sistema, mas de produzir o conhecimento, fortalecida até essa função essência pela integração das redes, decorrente,  da própria virtualização. A universidade presencial será igualmente a plataforma de análise ,controle e difusão do conhecimento, além de continuar a ministrando cursos e outras atividades presenciais ,só que, estou certo, com maior qualidade e adequação às realidades do mundo transformado 

4. Conclusão. 

Concluindo, caros  amigos, minhas queridas, que tiveram a paciência de seguir-me nessa longa reflexão sobre a universidade a ser construída, quero dizer que não se chega onde se  quer chgar sem percorrer o caminho, às vezes um longo caminho.  Mas para percorrer o caminho é preciso  começar dando o primeiro passo. 

Meu objetivo ao  tentar abrir esses longes  horizontes foi exclusivamente colaborar para que esse primeiro passo fosse dado e que fosse dado numa direção ,que julgo a direção correta e necessária para caminhar na mesma direção em que caminha o mundo, para uma nova civilização, que precisa ser construída em sintonia  com os avanços da ciência e da tecnologia, mas onde as dimensões humanas possam realizar-se em  plenitude. 

Quero também dizer que tenho plena consciência que estou numa instituição que , como Centro Universitário ainda não chegou à plenitude das competências e das responsabilidades  da Universidade, mas creio que este deve ser o objetivo de toda instituição de nível superior e portando desse Centro Universitário da Barra Mansa. 

Quero agradecer a todos vocês por essa oportunidade e, de um modo especial a essa extraordinária personalidade  de seu Reitor Marcos Vinicius, de cuja competência, dedicação e tamanho de sua dimensão humana, quero deixar meu testemunho, junto com meu abraço, no qual quero que se sintam abraçado cada um de vocês. 

Muito obrigado. 

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